sexta-feira, 11 de março de 2011

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ILÍADA DE HOMERO

“Tens que ler a Ilíada e Odisseia de Homero, ambas representativas da cultura e civilização europeia...duas obras importantíssimas e um verdadeiro hino ao combate...vais adorar!”
   Foram estas palavras de um camarada que muito estimo, que me fizeram despertar a curiosidade por essas obras, conhecidas por alto através de uma breve abordagem escolar, ou pelo filme Tróia, em que Brad Pitt representa o papel de Aquiles, líder dos Mirmidões.
   Helena de Tróia, Heitor Aquiles, o cavalo de Tróia e a guerra entre Acaios e Troianos, não são desconhecidos, mas a leitura da Ilíada traz outra profundidade e dimensão a essa epopeia, que um simples filme ou resumos escolares não alcançam.
   A civilização grega descrita pela arte da guerra, as alianças, o culto do guerreiro, a sociedade, a família, as qualidades e defeitos humanos tão bem descritas na paixão, amor, intriga, inveja, avareza, cobardia etc, são sublimemente descritas nesta epopeia.
    Deixo-vos uma ínfima parte da obra, e da personagem de Heitor através do seu diálogo com a sua esposa Andrómaca.
     “Vamos, mulheres, não me mintais, para onde foi Andrómaca de alvejantes braços, ao sair do palácio? Estará com minhas irmãs ou com as tafulas das minhas cunhadas? Ou iria ao tempo de Atenaia e lá estará com outras troianas de belas tranças aplacar a terrível deusa?
     Quem respondeu foi a desembaraçada despenseira:
    -Heitor, pois que tu me apertes para dizer a verdade...pois não é com as tuas irmãs; nem com as tafulas de tuas cunhadas; nem no templo de Ateneia com outras troianas de cabelos aos anéis a aplacar a terrível deusa; não, não é ai que a acharás. Ela foi para a grande terra de Ílios, porque soube que os troianos afrouxavam e cresciam de forças os acaios. Correu como louca para a torre. A ama a seguiu com o menino ao colo.
      Assim falou a despenseira. Heitor saiu apressado, tomando pelo mesmo caminho, pelas formosas ruas. Quando chegou, depois de atravessar a grande cidade, às portas ocidentais, pelas quais havia de sair para a esplanada, encontrou sua mulher, Andrómaca. Foi pai de Andrómaca magnânimo Eetião, que habitava juntos dos bosques do monte Placos, em Tebas-sub-Placos, e era rei de Cilícios e deu á filha um grande dote. Era esta a esposa de Heitor de capacete de bronze. Ela veio, pois, a seu encontro; acompanhava-a uma mulher, estreitando uma tímida criança ao peito, um menino muito tenro ainda, o filho querido de Heitor, formoso como uma bela estrela, Heitor chamava-lhe Escamândrios, mas o povo dera-lhe o nome de «Astíanax» era, porque, mesmo só por causa desse menino, Heitor havia de defender Ílios.
      E Heitor sorria, contemplando o filhinho, e não dizia palavra. Mas Andrómaca estava junto de Heitor banhada em lágrimas e lhe disse, pronunciando o nome dele.
   «Daimónio», tua bravura será a tua perdição. Não te compadeças do teu filhinho nem de mim, desventurada, que bem cedo ficarei viúva, sem ti...porque sobre ti vão lançar-se os Acaios todos, combatendo juntos e tu morrerás. Quanto a mim, mais me valeria, se tenho de te perder, que me enterrassem, porque não terei mais alegria, quando se cumprir o teu destino, mas insuportáveis aflições. Lá não tenho pai nem amorável mãe. O pai foi morto por Aquiles, o mesmo que saqueou a bela cidade dos Cílices, Tebas de altas portas: matou Eetião, sem ousar, todavia, por algum resto de piedade, despojar o cadáver, queimou-o e juntamente as belas armas, e deu-lhe um túmulo que depois as ninfas da montanha filhas de Zeus, cercaram de ulmeiros. Em minha casa como já se criaram sete irmãos; todos no mesmo dia partiram para Aides; o divino Aquiles, em saltos de tigre, os matou quando seus bois de rondantes patas apascentavam, e suas brancas ovelhas. Minha mãe, que reinava junto dos bosques de Placos, ele a trouxe cativa sobre os despojos e só consentiu em seu resgate por um preço imenso; restituída a palácio de seu pai, Ártemis, brincando com suas flechas, aí a matou.
     Heitor, tu és para mim um pai, venerável mãe, um irmão, tu és o meu forte esposo. Por piedade, não te vás agora; deixa-te estar aqui, sobre a terra; receio que fique órfão teu filhinho e viva tua mulher.
      Dispõe as tuas tropas junto de figueira, no lugar por onde a cidade é mais acessível e a muralha pode ser escalada. Já três vezes para ali investiram os mais valentes, os homens que acompanham os dois Ajacos, o ilustre Idomeneus, ambos os Atreides e o valente filho de Tideus; e deram os três assaltos ou porque seriam instigados por algum clarividente adivinho ou porque os impeliu a natural bravura.
       Heitor de cintilante capacete lhe respondeu;
     -Também a mim, mulher, tudo isso me aflige; mas que me é insuportável é o só imaginar que eu, na presença dos troianos e das troianas de longos vestidos, possa fugir do combate como um cobarde.
       Não é isso, vamos lá, o que meu coração receia, porque estou habituado às refregas árduas e a combater na primeira ala dos troianos, para conservar a memória de meu pai e minha própria. A sós com minha alma e meu coração, perfeitamente o sei: virá o dia em que hão-de perecer a santa Ílios e Príamos e o povo de Príamos de forte braço. Mas nem iminente desgraça aos troianos, nem a de Hécabe mesmo, nem a d’el-rei Príamos e de meus irmãos, que são numerosos e valentes e vão cair no pó sob os golpes dos guerreiros inimigos, é o que mais me atormenta o espírito; mas sim a tua dor, quando te vires cativa de um acaio revestido de bronze, lastimosa e chorando o último dia da tua liberdade. E, depois, um Angólida, ás ordens de outro, serás obrigada a tecer e a carregar água de Messeis e Hipereia, porque assim te ordenará a cruel necessidade.
Os que virem correr tuas lágrimas dirão: “Aquela é a mulher de Heitor, guerreiro de nomeada entre os troianos domadores de cavalos, no tempo em que se combatia em volta de Ílios.”
     Assim hão-de dizer. E tua dor será mais acerba se te lembrares de um homem como eu que podia pôr termo aos dias do teu cativeiro.
      Ah, mas que eu seja morto então, que a terra me cubra para não ouvir teus gritos nem te ver assim levada de rastos!
      Dizendo estas palavras, o ilustre Heitor quis abraçar o filhinho. O menino, cheio de medo, refugiava-se no seio da ama de esbelta cintura, e revirava os olhitos espantados para a feroz catadura do pai: para o bronze das armas e particularmente para as crinas de rabo do cavalo que palpitavam terríveis no cone do alto do capacete. O extremoso pai sorria e a amorável mãe também. E o ilustre Heitor desencasqueta-se e poisou no chão o refulgente capacete. E beijou seu filho muito amado, e o embalou nos braços, e suplicou a Zeus e aos outros deuses:
      -Zeus e vós, Deuses, fazei que este filho meu venha a ser, como eu, um homem ilustre no meio dos troianos, e também como eu valente e em Ílios poderoso. E um dia, quando volte do combate, digam dele: “ é muito mais bravo que seu pai!”.
       E que traga os despojos ensanguentados do inimigo, morto por ele, e alegre a alma de sua mãe.
       Com estas palavras passou o menino para os braços da cara esposa, e ela sorria por entre lágrimas, estreitando o filho no perfumado seio; e seu marido se comoveu, com os olhos presos dela e do filho, e ele a acariciou com a mão e disse, nomeando-a:
       -Daimonia, não te aflijas por minha causa. Seja qual for meu destino, homem algum me há-de meter à força em casa de Aides. Mas jamais homem nascido fugiu á sua sorte, digo-te eu, seja bravo a covarde. Vai para casa, ocupa-te nos trabalhos que te são próprios, o tear, a raça, o governo de criadas. A guerra é tarefa dos homens; cabe-me a máxima parte, mas é de todos os homens que nasceram Ílios.”

P.S. - Dedico este texto á minha querida esposa e aos meus lindos filhos!

Por: Timóteo Veiga

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