sexta-feira, 11 de março de 2011

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Um casamento na prisão

No dia 22 de Fevereiro de 2011, casaram na prisão de alta segurança em Monsanto, Mário Machado com sua esposa Susana Martins.
Ao invés dos casamentos tradicionais, este não teve festa, a noiva deslocou-se sozinha ao encontro do noivo, que a esperava acompanhado pelos guardas prisionais e não pelos seus padrinhos, familiares ou amigos.
Sabendo nós de antemão que principalmente para as mulheres a cerimónia de casamento é algo como que sonham toda uma vida, não posso deixar de enaltecer a coragem, mas sobretudo o amor que uma mulher tem de sentir por um homem para se submeter a tão particulares condições de enlace.
A noiva principescamente vestida e o noivo com a farda da prisão, lá foram ouvindo todas as condições do casamento e demais obrigações sempre de mão dada, prazer esse que nos últimos cinco meses só lhes tinha sido concedido por uma vez na visita de natal com a também presença dos três filhos, devido às medidas de segurança que vigoram nesse estabelecimento proibirem o contacto físico entre visitas e reclusos. As visitas são, estritamente, através de vidros de separação.
A certa altura reparou o noivo que, ao longo da leitura da Dra da Conservatória, a sua noiva estaria consecutivamente a ser tratada no masculino, por exemplo em vez de ser lido: “ O Nubente Mário... e a Nubenta Susana...” lera-se: “ O Nubente Susana”; e na filiação em vez de: “ O Mário filho de... e  a Susana filha de...” lera-se: “ Susana filho de...”. Pelo que tive de chamar à atenção da oradora que explicou o cúmulo do inacreditável e passo a citar “depois da aprovação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo como não sabíamos como nos dirigir aos noivos e para não ferir susceptibilidades, resolveu-se começar a tratar todos no masculino.”
Como podem imaginar, a indignação do nacionalista foi brutal e só contida porque já bastava a situação em que a sua mulher estava sujeita ao casar no presídio abdicando de tanto, para se levantar ali mais uma questão de impasse no casamento, ela mais do que ninguém, não merecia isso e apesar do nacionalista ter mostrado o seu desagrado, o casamento prosseguiu.
Não posso deixar de plasmar aqui a minha mais profunda indignação e revolta para com o sistema que como se não bastasse permite o casamento entre géneros iguais, como vai mais além e humilha heterossexuais com o pretexto de não melindrar os homossexuais... incrível!
Voltando à normalidade, e à relação saudável entre um homem e uma mulher,  conhecem as pessoas que conviveram mais de perto com o casal esse enorme amor e as mais variadas adversidades com que Mário e Susana se defrontaram, para se manterem juntos, começando desde logo pelas posições politicas contrarias dos dois, ele nacionalista, ela militante do partido socialista, fazendo com que as amizades pessoais de ambos não poucas vezes colidissem, não se respeitando, ao contrário do casal que imbuídos em sentimentos amorosos, de paixão e respeito nunca permitiram que tal acontecesse.
Paralelamente, por motivos ignóbeis por parte do familiar do noivo e por motivos mais do que compreensíveis por parte da família da noiva, a pressão para que o relacionamento não crescesse foi e é ainda nos dias de hoje constante.
Aqui recordo-me sempre da frase de Camilo Castelo Branco na obra Amor de Perdição: “ A submissão é uma ignomínia quando o poder paternal é uma afronta!”
E assim ambos decidiram oficializar o seu amor através do casamento e de juras eternas.
Costuma-se dizer que por detrás de um grande um grande homem, está sempre uma grande mulher. Não se o Mário é um grande homem, sei que pelo menos tem feito um esforço nesse sentido. Agora, não tenho dúvidas que a Susana é uma grande mulher e isso vê-se claramente nas suas acções e atitudes, no apoio incondicional ao seu marido, na maneira como assumiu sozinha e tão primorosamente os deveres da maternidade,  no empenho que teve na sua licenciatura e no profissionalismo do seu trabalho.
É importante que os nacionalistas que têm algum apreço e consideração pelo Mário saibam que ao lado dele está uma grande mulher e que pelo menos nesse aspecto podem estar descansados que a vida não lhe trouxe apenas contratempos e dissabores.
Pelo que sei, quando em liberdade, o casal tenciona casar pela igreja e aí sim com tudo a que também têm direito.
Que esse amor perdure eternamente.
                                               “TRUE LOVE NEVER DIES”

Por: Timóteo Veiga



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